Mensagem de fim de ano

"A Melhor mensagem de Natal é aquela que sai em silêncio de nossos corações e aquece com ternura os corações daqueles que nos acompanham em nossa caminhada pela vida".


Após passar horas pensando no que escrever, melhor deixar meu coração falar com vocês.

Nesse ano de grandes mudanças e conquistas de todos, agradeço por estarem presentes em mais essa etapa de minha vida. Aprendi muito com cada um que fez parte da mesma estrada que escolhi - mesmo que a jornada conjunta tenha sido curta. Passageira não é, pois carrego todas as lembranças, conversas, risos e angústias compartilhados. Cresci como pessoa, como profissional, amiga e mulher. Espero ter deixado um pouco do que sei com vocês também.

Talvez seja o espírito natalino que não me pegou - afinal, na Malásia, Natal é sinônimo de liquidações de fim de ano. Mas não importa se você é cristão, muçulmano, judeu, budista ou hindu: a mensagem abaixo cabe a todos os meus amigos e a todos os credos. Mesmo sendo um textinho de 2008, é atemporal.

Mais uma vez, obrigada. E brindemos a nós em 2010.

Neste fim de semestre, de ano, de trabalhos e metas, tente não pensar que é somente o encerramento de um ciclo e o começo de outro. Tente não se esbaldar no consumismo característico dessa época. Tente não fazer promessas de Ano Novo somente por fazer.

Mais do que isso, contemple. Analise. Reflita. Agradeça pelas oportunidades, pelas vivências, pelos encontros e também pelos desencontros. O aprendizado surge nas conquistas e nas retiradas. E a partir daí, sonhe, sorrie, encante-se, ame, entristeça-se... mas sempre lembre-se que por mais triste que uma situação seja, isso passa. ;)

Agradeça também pelas amizades cultivadas. E pelas que hão de vir. As pessoas não entram em nossa vida por acaso. A troca é uma das mais belas experiências que podemos viver. Juntos, podemos empreender e perseverar. Não é necessário esperar.

Obrigada por fazer parte da minha vivência e pelas trocas! Boas festas, muita fé e esperança!
 
E que o Ano Novo possa sempre renascer dentro de você!



Srta D.


: : Em KL, 22h53.
: : Ouvindo: Alicia Keys.

Atualizações

"Poxa, o fim do ano voa mesmo!!!" ¬¬'

Ótimo, comecei o texto com um clichê piegas. Mas não há muito o que se comentar a respeito. Depois do meu aniversário, sempre tenho a impressão de que uma piscada mais longa me traz o Natal. Adoro o clima, mas dispenso o estresse e a obrigação de presentar até o sobrinho da esposa do chefe que um dia na vida me deu carona até o ponto de ônibus. Por favor, né? Merecem presentes aqueles que me são caros e que também demonstram a mesma atitude para com a minha pessoa.

Fora o estresse das compras, há também o estresse laboral pré-fim de ano: orçamentos e projetos a serem aprovados para o ano seguinte, premiações, feedbacks, confraternizações, prazos estourados e contas - inúmeros cálculos tentando sempre planejar o futuro da maneira mais racional possível.

A minha casa continua sem internet - ainda passeio de mochilinha nas costas, pulando de amigo em amigo. Abençoada que sou, eles são muito solidários. Nesse mês desconectada, nem aconteceu nada fora do óbvio: trabalho de mais, sono de menos. E o estresse natalino. Escrevo para contar que estou bem e que aguardo as próximas semanas com muita empolgação. Até lá, vou postar fotos das árvores de natal  e das novidades que certamente virão.


: : Em KL, 23h25.
: : Ouvindo: Rihanna, tocando no radinho da tv a cabo.

Empreendedorismo Chinês

Esse post está mais para uma constatação do que para uma descrição. Até porque não dá para falar muito sobre esse assunto; acho que nem devo. Mas falarei mesmo assim. Eles também arrecadam impostos, oras!

Todo mundo sabe que chinês é um povo 'empreendedor'. Mesmo que hoje eles ainda estejam na fase do copia-replica, as suas cópias estão entre as mais bem-feitas - e caras - do mundo. Estando na Ásia, cada cidade tem sua Chinatown e a de Kuala Lumpur é imensa! Soma-se a isso o fato de as atividades econômicas serem realizadas quase que totalmente pelos olhinhos puxados. Restaurantes chiques, hotéis de luxo, lojas de eletrônicos e seus acessórios só funcionam se forem gerenciados por eles.

Daí, quero que vocês reparem. As réplicas chegaram num estágio de perfeição tão grande que fica difícil acreditar que a foto abaixo é a de um DVD pirata - ou melhor, de um box (!!!) de DVD pirata.

Box do piratão do Fringe - 1ª Temporada

Ao contrário do Brasil, esses tesouros não são vendidos em feirinhas sujas e furrecas. Todo shopping (todo mesmo, até os de luxo) tem pelo menos uma loja de venda desses discos: filmes, seriados, musicais, jogos, documentários da BBC e do Discovery... é só escolher!

- Ah, Srta... mas eu sou chique. DVD é coisa de pobre, eu já uso Blu-ray.

Não tem problema! Você também acha Blu-ray pirata! Acha até Blu-ray ripado em DVD. Com a MESMA qualidade de imagem. Os chineses aperfeiçoaram-se tanto na arte da réplica que fica difícil resistir. Eles investem na embalagem e na cópia também. Se você não está satisfeito com a imagem ou o som, é só voltar na loja e trocar. Os filmes custam RM10 (R$5) e os jogos oscilam entre RM10 e RM15 (R$5-10). Uma ida ao cinema, em dia de promoção, para ver filme censurado, custa RM15 - mais RM6,50 da pipoca (doce. Na Malásia não existe pipoca salgada. E não estou brincando). Façam as contas.

Comprando discos fora de coleções completas, tipo box, eles vêm cada um com capinha e esse plástico classificador. Se o vendedor for com a sua cara, ele até te dá a pastinha de brinde (acima de 15 DVDs, por aí)
Não se engane, é genérico também...

É a máfia chinesa tomando conta. E nem agem no submundo. Como eu disse, todas as vendas são feitas em estabelecimentos próprios, em bairros nobres, com registro na prefeitura e pagamento de impostos. A fábrica e os depósitos, porém, não ficam no mesmo lugar. Mas não se preocupe, sua encomenda chega no outro dia, garantido (até filmes proibidos no país ou que ainda não estrearam). Se tiver em estoque, os caras no walkie-talkie vão confirmar a entrega em meia hora - ou menos.

Aqui no Flickr tem mais fotos e detalhes. Esse post foi pros amigos fissurados em filmes. Depois que eu descobrir o mundo das réplicas em Chinatown, conto sobre as bolsas e os relógios.


: : Em KL, 22h45.
: : Ouvindo: Beyoncé.

Uff... ainda dá tempo?!

Uff.. tem de dar!! Porque isso aqui não é uma democracia!!! *tapa na mesa*

Finalmente, gerenciei minha crise internética. Meu amigo bengalês foi passar férias em seu país e, com muito dó da situação que essa mocinha passou no último mês, me emprestou sua internet móvel. Quando cheguei em casa e o sinal funcionou, foi a mesma sensação de chegar ao paraíso!! É, a banda lerda do governo continua sem DNS e sem notícias de quando suspenderá a greve.

Tanta coisa aconteceu nesses últimos dias! De cá, muito trabalho. Acho q estou começando a me estressar. Acho. Durante minha primeira semana no Oriente, tive uma impressão e ela confirmou-se por agora: aqui, além de estar 12h à frente de todos aqueles que me importam, o tempo também passa mais rápido. No primeiro mês coloquei a culpa no jet lag, mas os dias aqui são mais curtos, mesmo. O sol está a pino das 7h às 19h15, o problema é a Terra que não pára de girar.

Dentre reuniões, pesquisas de mercado, notícias e vida pessoal, atualizo vocês sobre as últimas bombas (sem trocadilhos, pois eu estou num país muçulmano!):

Caso Uniban
A polêmica toda desenrolou-se enquanto eu já estava sem internet e nem pude fazer muitos comentários a respeito no Twitter. No fim, a conclusão mais prudente - e óbvia - que tiro disso é o fato de que o ser humano, em qualquer lugar do mundo, é um ser hipócrita.

Meus colegas daqui se espantaram com a notícia e com o desrespeito, como qualquer pessoa em sã consciência faria o mesmo. O diferente, contudo, é que eles não conseguem entender como um país tão liberal como o Brasil questiona o fato de uma mulher querer mostrar as pernas. Infelizmente, a imagem que os estrangeiros (ocidentais ou orientais) têm do nosso país é a da liberdade sexual. Por mais que eu diga e explique que, no fundo, somos tacanhos, eles não entendem. Assim como também acham paradoxal as mulheres não fazerem topless nas praias, mas usarem biquini fio-dental. 'Já é tão minúsculo, mostrar os peitos não vai fazer a diferença', escutei. E pensando racionalmente, por que não fazemos topless na praia, mesmo? Mostrar a bunda pode, mas os seios, não?

Guardadas as devidas proporções, poderia dizer que eu passo, todos os dias, pela mesma situação de objetificação que a senhora G. sofreu na faculdade. Claro, eu estou em um país declaradamente não-secular (ou dessecular, diriam meus professores de política internacional). Aqui, os estrangeiros podem sair vestidos do jeito que quiserem, podem beber até passar mal e também pagar por sexo, pois a polícia religiosa não atua sobre eles. Teoricamente, o tratamento e o respeito aos mat salleh é o mesmo encontrado em seus países de origem. Bem... só teoricamente.

Sabendo como a Malásia é, abri mão de inúmeras peças do meu guarda-roupa antes de me mudar. Trabalho em um escritório que atende a todos, mas cujo pessoal é composto de malaios, quase que totalmente. Somos 4 cristãos, 3 hindus, 3 budistas e mais setenta e tantos muçulmanos. Não existe código de etiqueta ou regimento interno sobre vestuário, como na Uniban. No entanto, o dia em que apareço lá de camisa social de manga curta, os comentários e os olhares se modificam. Não trabalho de saia; as minhas camisas corporativas sempre estão fechadas até o pescoço. O que para nós é só uma gola canoa, para eles torna-se uma blasfêmia, um decote pavoroso. Às sextas, dia da roupa casual, todos podem ir de jeans e camiseta - mas eu sempre sou alvo de piadinhas de mau-gosto.

Não entendo o que falam, pois cochicham entre eles em Bahasa. Mas, dentre os homens (uns 2 ou 3 mais inflamadinhos), noto as diferenças no olhar, no modo como conversam comigo quando precisam de algo ou em como torcem o pescoço quando estou no corredor. As mulheres não se importam e acredito que algumas delas até sonham com o dia que poderão usar uma babylook. Mas, apesar de mostrarem só a face e as palmas das mãos, elas adoram as malícias dos homens. Ficam todas alegrinhas quando mexem com elas, e também começam algumas brincadeiras. Ah, se pano segurasse a libido... a imaginação desses malaios vai longe. Já repararam como uma munaqaba, apesar de toda aquela cobertura preta, ainda possui um dos olhares mais sexies?!

Ser sexy não é mostrar tudo, mas saber atiçar.

Se algo que incomodasse somente durante o expediente, tudo bem. Mas também ouço assobios e cantadas na rua - e olha que nem mostro minhas pernas por aqui! Isso só não acontece quando estou acompanhada por um homem. Além de não-secular, o país também é machista. Uma estrangeira, como não se cobre, só é considerada uma mulher 'de respeito' se um homem estiver ao seu lado. De qualquer forma, alguns conhecidos locais já me tranquilizaram: disseram que das encaradas eles não passam. E espero mesmo!

Carne de cachorro
Então o pessoal aí no Brasil está espantado com o criadouro ilegal de cachorros?? Aqui na Ásia, meus amigos, isso é perfeitamente normal. Esse povo já passou tanta fome que qualquer coisa vira comida - até cérebro de macaco e de carneiro. Nas Coréias e na China, cachorro é menu popular - e sem abate humanizado.

Claro que eu não experimentei nenhuma dessas comidas exóticas para o paladar ocidental. Nem comecei a viajar pelo continente, mas com certeza não quero testá-las. Não como cachorros e nem gatos porque eles são fofinhos e jamais aceitaria comê-los. Vacas, frangos, peixes e outros animais também o são - mas esses eu como porque eu não os vejo no momento da morte e então dessassocio o pedaço de carne no meu prato de qualquer parte do corpo deles.

Quase não há consumo de carne vermelha na Malásia porque é muito caro. Preferem comer frango e quando muito, carneiro. Um quilo de picanha aqui, vendido somente em açougues especializados e finos, custa quase 50 reais. Desse modo, a maioria das vezes que se pede algo acompanhado de carne (beef, como eles dizem), esta vem moída. Nunca perguntei que parte da vaca é aquela e nem quero saber - certamente, eles moem tudo o que for possível. Quem não garante que eles também acrescentem gatos ou cachorros? Talvez até já os comi e nunca soube! Soma-se a isso o fato de aqui não ter vigilância sanitária como a do Brasil. Se nossos fiscais viessem pra esse lado, fechariam mais de 90% dos restaurantes.

Rusgas malasianas-indonésias
Pode soar engraçado, mas considero a Malásia e a Indonésia como nações irmãs (até dividem a mesma ilha, poxa!). Tal como irmãs, tem lá seus desentendimentos. Pensava que fossem essas briguinhas Brasil-Argentina, mas parece que a tensão anda aumentando. O novo estagiário internacional da ONG teve seu visto negado pelo simples fato de ser indonésio. Nossos pesquisadores não conseguem informações do sistema de saúde deles só porque são malasianos. Ultimamente, os jornais noticiam avisos e vídeos de grupos armados indonésios, avisando para a Malásia ficar esperta, pois 'a invasão está próxima'. Eu, hein...

Aniversário
Simmmm!!!! Fiz 24 anos no último dia 11!! Foi um dia normal no expediente, mas depois eu e meus amigos fomos para o La Bodega, um restaurante mediterrâneo que fica em Bukit Bintang, bem no coração da náiti malasiana. Foi um jantar ótimo, com muitas risadas e muitas fotos. Ganhei até presente!!! : )

Adeline, vulgo Miss Malásia: minha grande amiga!
 
Uma outra amiga não pôde ir ao jantar. Mas levou sua lembrancinha no dia seguinte. O cartão que acompanha o presente é, de agora em diante, mascote desse blog!! Dêem uma olhada.

Vaquinha!!!!! :D Ah, e Famous Amos, os cookies mais gostosos que já comi!

No mais, o calor continua. E a chuva também, fazendo de Kuala Lumpur uma grande sauna a vapor.

Clique aqui para mais fotos do aniversário.


: : Em KL, 20h50.
: : Ouvindo: Editors.

Do outro lado do mundo, sem internet - O Retorno! (ou não)

Pois é. Aconteceu de novo.

Começa hoje, oficialmente, a terceira semana sem internet em casa - e sem previsão de retorno. Conseguimos falar com os técnicos da TM e eles haviam combinado de ir lá ontem. Adivinha se apareceram (e eu também nem sei porque me surpreendo tanto). Com o início da época de chuvas, é deprimente ficar em casa sem falar com os meus queridos, sozinha, com o céu desabando lá fora. Tem horas que até a tv a cabo sai do ar - ela nem é lá essas coisas, tudo nessa Malásia é censurado. Não sobra muito pra se ver em um clipe da Lady Gaga, por exemplo.

O trabalho está, a cada dia, maior e mais apertado em seus prazos. Recomeçarei a viajar só no próximo ano, daí geralmente faço extras em casa também. Quer dizer, faria, se houvesse um DNS no fim da linha. O expediente não dá pra tudo e em casa fico agoniada com esse tempo desperdiçado. Mais agoniada ainda porque tanto aconteceu e eu nem pude contar a ninguém! Que solidão!!! *drama queen mode on*

Resta-me surrupiar a conexão alheia de colegas solidários. Faz alguns dias que ando para lá e para cá com uma malinha, dormindo em sofás - buscando tempo e jeito para falar com minha família. Foi assim no meu aniversário. É, eu fiz anos na Malásia, dia 11. Preciso contar como foi e subir as fotos. Já digo que foi melhor do que eu esperava e até ganhei presente!!! :D

Enfim, nem vou estressar mais com essa ladainha da net na minha casa, pois novidades vêm por aí. Mas prometo que vou atualizar o blog nos próximos dias - sacrificarei meus almoços!! rs rs Meu mundinho particular precisa de cuidados constantes. Me ajuda a passar os dias aqui.


: : Em KL, 12:16.
: : Ouvindo: The Cardigans, My Favourite Game.

Do outro lado do mundo, sem internet

Se alguém te disser que uma das melhores coisas da Ásia é a velocidade da internet, desconfie. Aliás, corra. É tudo mentira.

Antes de vir morar aqui, eu realmente pensava que teria uma das melhores conexões do planeta. Que decepção foi chegar à Malásia e descobrir que linhas fixas e o ADSL são monopolizados pelo governo - e aqui, você ainda não pode ter um sem o outro.

Aumentar a velocidade também é uma coisa cara; logo, a maioria das pessoas que conheço paga somente por 1mb de velocidade. Imagine que legal isso, em uma república com oito pessoas (nota: essa NÃO é a minha república!).

O serviço também não é lá grande coisa e o sinal oscila muito. Na época chuvosa, os trovões assustam a conexão e ela simplesmente some, voltando só no dia seguinte.

Desde a última quarta-feira, minha casa está desligada do mundo. Pensa o desespero da analista internacional workaholic, somado à loucura do já pirado economista da General Eletric, Oil & Gas market (vulgarmente conhecido como Rubem, o colega de apê malaysian indian que adora carne). Contactamos a Telekom Malaysia (TM) várias vezes, abrimos vários chamados. Esperas intermináveis, telefones na cara, atendentes que insistem em dizer que tudo está normal e devolver o problema para você. Até parece que eu conheço essa história... Brasil Telecom feelings.

No domingo, finalmente, o Rubem conseguiu que eles mandassem um técnico aqui, para verificar o problema. Mas a área técnica não trabalha em fins de semana. Pediram pra alguém ficar de prontidão segunda ou terça-feira, que é quando eles verificam as ordens de serviço (que lindo seria eu explicando pro chefe porque não fui trabalhar nesses dias... ¬¬')

O mais engraçado - ou trágico - de tudo isso é que Kuala Lumpur está na lista das cidades mais conectadas do mundo. LAN Houses por aqui são raras, já que a maioria dos shoppings, restaurantes, hotéis, bares e qualquer outro lugar que aglomere pessoas oferece wi-fi de graça. É só carregar seu netbook para onde for (e acredite em mim, aqui eles fazem isso. Até na balada).

- Tá, Srta... então por que você mesma não fez isso e atualizou o blog?

Porque as duas últimas semanas voaram e este último fim de semana foi chuvoso, bem chuvoso - acompanhado de trabalhos que nem comecei, já que a internet foi passear. Dá preguiça sair na chuva quando não se tem carro. Me sobrou só um show de jazz, após um jantar com frutos do mar à moda tailandesa - com carona, claro. ; )

E que eu JAMAIS atualize o blog do trabalho, de novo. Amém.

* * *
ATUALIZAÇÃO: Esse texto foi escrito depois da meia-noite, às pressas, meio que um desabafo. Mas Alá teve dó de mim e a conexão voltou, bem quando terminei o 'amém'. Obrigada Senhor! Não dá pra ficar mais abandonada do que isso: a meio globo de distância da família e dos amigos.

: : Em KL, 00h19, já de segunda-feira.
: : Ouvindo: Muse.

Cartas brasileiras - 02

"Oi querida, que bom receber notícias suas. Menina, que viagem cultural vc está nos proporcionando. Adorei as notícias e novidades. Por aqui quase tudo na mesma. Iniciamos os ensaios do coral. Está uma gracinha. No mais, só trabalho, trabalho e + trabalho. Sei que não foi uma decisão fácil a sua em deixar tudo e iniciar algo tão diferente. Mas a vida é muito rápida para perdermos as oportunidades que ela nos oferece. O que faz com que o mundo se mova são pessoas como vc que arriscam, e fazem a diferença.

Um beijão e que Deus te guarde e ilumine. Adorei o seu trabalho. Esses dias ainda estive refletindo sobre a minha verdadeira missão. Não tenho certeza de que é só isso que preciso desenvolver. Acredito em maiores realizações. Como fazer algo novo trabalhando 8 hs por dia, sendo dona de casa, esposa e mãe? É bom aproveitar enquanto vc tem menos demandas sociais para atender. Bjs mil, boa sorte, que o Senhor te abençoe e te guarde, livre de todo o mal e te dê sabedoria e paz. Fé. 

- A."

Olá!
Muito bom receber email seu, tava com saudade!
Realmente, não é fácil passar por isso, ter coragem pra arriscar e seguir em frente. Também não é fácil ficar aqui sozinha, sem namorado, longe da família. Me sinto um bebê às vezes, pois tenho de aprender tudo. Desde a andar na cidade até a fazer novas amizades, com os poréns e diferenças entre ocidentais e orientais. Tudo é novo, e eu tenho só eu mesma pra me motivar.

Sei como é difícil tentar algo novo, 'soltar as amarras'. Quanto mais o tempo passa, mais obrigações aparecem e de algumas você não consegue sair tão fácil. Por isso arrisquei. A cada ano, a vida se torna mais e mais complicada. Mas vc não precisa fazer nada tão radical, a mudança começa de pequeno. Mude o seu mundo e tudo começa a fluir.

Um beijo e muitas bençãos pra vc e toda sua família. Manteremos contato. Vc é sempre bem-vinda!

Deepavali

Hoje é ano novo indiano: Divali. Ou Diwali. Ou Deepavali.

Assim como a Índia, por si só, já apresenta a maior diversidade religiosa por metro quadrado, essa data assume diversos significados para esse povo: tâmils, hindus, sikhs, budistas... ao fim, todos tratam da mesma coisa: iluminação. É o Festival das Luzes, indicando o triunfo do bem contra o mal e a iluminação espiritual do indíviduo.

Os indianos do norte chamam de Diwali; os do sul, de Deepavali. Na Malásia, usa-se esse último nome. É feriado nacional e uma data móvel baseada no calendário lunar, assim como o Hari Raya - caindo sempre entre o fim de outubro e os 15 primeiros dias de novembro. De acordo com a sua crença, o dia pode marcar o retorno de um rei, a morte de um demônio, o fim de uma guerra ou um casamento entre deuses. Para comemorar, os povos acendem cordas de algodão mergulhadas em óleo, sendo esta a origem do nome do festival (dipa = lamparina / avali = fila).

Tapete de serragem e velas na entrada do escritório. Os malasianos homenageiam todos os credos, e esses tapetes são encontrados pela cidade toda. Ao centro, imagem de Ganesha, deus hindu da sucesso, removedor dos obstáculos.

 Como trata-se de evolução espiritual, os indianos preparam suas moradas para receber as bençãos: compram roupas novas e fazem faxina na casa e no escritório - alguns até os reformam ou renovam a pintura. É comum também que se inicie um novo ano fiscal nesse dia, e os indianos do Norte geralmente abrem novos livros de caixa em seus comércios.

Uma outra tradição é a troca de doces e salgadinhos típicos do festival, em sinal de retribuição pela amizade e pelas conquistas do último ano. Aqui na Malásia, isso adquire uma aura toda especial, porque mexe com algo que eles adoram: comida! Acontecem mais open houses e os indian malaysians recebem qualquer pessoa, independente de raça ou posição política.

Em Kuala Lumpur, o bairro indiano é Brickfields, perto da estação central. Em tempos ditos normais, já é uma área bem colorida e barulhenta. Durante as festas, multiplicam-se as músicas, as ofertas e as luzes. A preparação começa umas três semanas antes (nesse ponto, os ocidentais são mais capitalistas: em minha cidade, já ocorre liquidação de Natal).


Uma das avenidas de Brickfields, no fim da tarde de ontem. Vendedores gritando ofertas e jingle bells instrumental tocando ao fundo...

Junto ao festival, não poderiam faltar as feirinhas típicas da temporada - aqui chamadas de melas, onde você pode encontrar tudo. Ao se aproximar de uma banquinha, lembre-se que os indianos não são tão bons negociadores quanto os chineses: as mercadorias valem a cara do freguês. Se você não conseguir convencê-los a baixar o preço, sempre existe outro vendedor mais amigável, é só procurar. Ah, e não estranhe se você perguntar algo e eles balançarem a cabeça de um lado para o outro. Isso não quer dizer 'não'. Eles apenas estão concordando com o que você diz.

Um corredor de uma das melas da cidade. Tinha ar condicionado, claro.

As mulheres, além de estarem vestidas com os melhores sáris, também enfeitam-se com jóias, maquiagem e henna. As tendas de mehndi são que nem praga! Eu aproveitei e fiz um desenho, custou 5 ringgit (quase uns 3 reais).

O processo...
 
Tchaanz!! : ) A henna preta dura até 2 semanas, mas você também pode fazer com a vermelha, que dura 5 dias.

Os fogos de artifício são um capítulo à parte na comemoração do Deepavali. Eles adoram. Mesmo. Tanto que soltam foguetes no meio das melas. Jogam bombinhas no seu pé, quando você passa. Estouram morteiros das sacadas dos prédios, mirando o chão. À meia-noite, Kuala Lumpur inteira estava às claras, com tantos fogos. Em Brickfields, a polícia teve de intervir, pois os transeuntes estavam quase em chamas (não ria, é sério!).

No dia propriamente dito, os indianos levantam às quatro da manhã, durante o Brahmamuhurta, e tomam banho de óleo, considerado purificador. Depois, fazem suas orações em família e vão ao templo, para agradecer aos deuses. Na Índia, eles se cumprimentam perguntando 'Você já tomou banho no Ganges?', comparando o banho de Deepavali ao rio sagrado. Aborrecimentos são perdoados e todos somente desejam sucesso e prosperidade uns aos outros. A união familiar é a mais celebrada. No dia seguinte à comemoração com os entes, saem para visitar os amigos e trocar doces.

Todo o significado que as luzes trazem, além da preparação espiritual, é muito bonita. Paradoxalmente, o bairro indiano pode ser considerado um gueto e eles são a minoria da população malasiana. Já ouvi muitos rótulos sobre eles e alguns confirmaram-se verdade. Talvez seja assim que eles encontraram meios de sobreviver sem serem atacados. As lamparinas de Deepavali deveriam iluminar sem distinção, trazendo paz e crescimento espiritual a todos, seres únicos, mas iguais na origem e no destino final.

Mais fotos no Flickr.

: : Em KL, 18h11.
: : Ouvindo: U2.

Cartas brasileiras

"À minha filha

Olho para você e me pergunto: Onde está aquela garotinha que queria tudo rosa?
 

Onde está aquela menininha que saía à rua com a coroa de rainha à cabeça? 


Onde foi parar o mundo do faz-de-conta, os castelos dourados, as fadas? 

Você cresceu. E a impressão que tenho é que você dormiu criança e despertou adolescente. 


A mudança foi muito brusca. Por isso, peço a você que tenha um pouco de paciência comigo. Preciso de um tempo para me acostumar a pensar que você está caminhando para a fase adulta.
 

Que, embora traga a mente ainda repleta de sonhos, são muito diversos dos anos da infância.
 

Você navega pela Internet, descobre terras maravilhosas e tece sonhos de viagens.
 

Você deseja o mundo. Até ontem, desejava ser um condor para voar acima das montanhas, dominando os céus.
 

Agora, você pensa como será pilotar um avião, para ficar entre as nuvens.
 

Você estuda sobre os astros, planetas, sistemas solares e assiste filmes de conquistas espaciais, simulando em sua mente, ser você a heroína a bordo das espaçonaves que dominam o espaço.
 

Você baixa das nuvens e seu coração bate, descompassado. Os galãs, os artistas, os meninos da escola.
 

São tantas emoções e tantas coisas acontecendo dentro de si.
 

O homem velho despertando, os hormônios agindo, as colegas assumindo posturas, exigindo outras de você.
 

Nesse seu mundo de adolescente, há tanto para querer, para conquistar.
 

Tempo de confusão. Tempo de decisão. Logo mais, você precisará definir a profissão que deseja, a carreira que pretende seguir.
 

Médica? Veterinária? Jóquei? Antropóloga?
 

Estudar inglês? Aprimorar-se na biologia?
 

Há tanto que decidir. O tempo urge.
 

De repente, me dou conta que já fui adolescente. Passei por tudo isso. E sofri, chorei, venci.
 

Por isso digo a você: Siga em frente. Não perca a fé em si mesma. Não descarte Deus de sua vida.
 

Sonhe e sonhe muito. Deseje sempre crescer, progredir.
 

Não perca a garra, a vontade de alcançar o que almeja. Quem abandona seus sonhos, já perdeu a graça maior da vida. Já começou a morrer.
 

Você veio ao mundo para ser feliz, para conquistar experiências, para evoluir.
 

Por isso, sonhe e invista nos seus sonhos. Planeje e persiga seus planos.
 

Estude, trabalhe, viva.
 

Não descarte ninguém de sua vida: a família, os amigos, professores, colegas.
 

Todos estão ao seu redor para o apoio afetivo que necessita.
 

Seja amiga, irmã, filha, colega. Nunca esqueça, no entanto, que você é filha da Luz, herdeira do Universo, Espírito imortal.
 

Conquiste as glórias do mundo, mas não esqueça que o brilho maior, imperecível, é o que conquistará você, Espírito, vivendo o bem, fazendo o bem, embelezando o mundo com sua presença especial.

Um Abraço especial do papai e mamãe e beijos muitos beijos, e que DEUS te ilumine."

Goiânia, 19 de agosto de 2009.
Srta D. em trânsito GRU/FRA/KUL.

Banheiros na Ásia

Ok, ok... ir ao banheiro (ou usar o toalete, sendo politicamente correta) é algo bem pessoal. Tão pessoal que não deveria ser comentado em jornais, revistas, tevê aberta ou blogs. Mas antes de viajar à Ásia, é preciso que eu apresente a verdade para vocês. E, vá lá, ela nem é tão ruim assim.

A tradição oriental, descoberta e glamurizada recentemente pelos ocidentais, tem também muito a ensinar no campo fisiológico. Aqui, caros, ainda se usam vasos turcos. Aqueles enfiados no chão, típicos de rodoviária de interior ou de posto de gasolina sujo à beira da estrada. Só que aqui eles não são sujos. São até mais higiênicos do que o trono que você se senta todos os dias.

Na verdade, o assento do tipo ocidental é algo bem recente. Antes, nós todos fazíamos as necessidades agachados - acocorados, melhor dizendo. Perdemos a prática de ambas ações, já que agora nos agachamos com as pontas dos pés, deixando o tendão de Aquiles todo atrofiado. Em toda a Ásia, isso ainda é bem comum. Tão comum que os chineses, por exemplo, não só conseguem fazer xixi desse modo. Se vão a algum lugar que não há vaso turco, eles se empoleiram em cima do sanitário normal mesmo. O acocorar não tem limite de idade: velhos, crianças, jovens... já vi até mulher grávida de oito meses.

Não precisa se assustar e desistir das férias aqui. Prédios comerciais, shoppings, restaurantes, todos esses ambientes públicos possuem banheiros com, no mínimo, duas cabines: uma para cada freguês. Como aqui é a Ásia e tudo tem fila, é só vc se encarregar de saber qual é a certa (geralmente os assentos sanitários são os primeiros, contando da entrada). Em qualquer um deles, você encontra um chuveirinho. Os orientais não usam papel higiênico; além disso, os muçulmanos, antes de rezar, lavam os pés - e pra isso eles não precisam escolher diferentes cabines.

Mas é bom que você esteja preparado, pois pode precisar do vaso turco nos lugares mais inapropriados. A universidade do último post, com toda sua estrutura moderna, só tinha esse tipo de wc no campus. Garanto que ninguém consegue segurar a vontade por mais de 8 horas; dor de barriga então...

Mais do que prática, você precisa vencer o medo!!! Esse post inteligentíssimo do obvious te ajudará nisso. Leia, te dá uma idéia geral do que fazer nessas situações - e de como não se molhar todo nas primeiras vezes.

; )

: : Em KL, 00h21, já de quarta.
: : Ouvindo: Kings of Leon.

Dia de exibição

Muita gente ainda me chama de louca por ter largado 'tudo' no Brasil. A minha vida era ótima: tinha estabilidade no emprego, tinha minha motoca, morava com meus pais e não precisava me preocupar com a minha comida e nem com a minha roupa. Mas... faltava algo.

Não reclamo de nada que eu tinha lá, mas comecei a ficar inquieta (meu pai diria que eu sempre o fui). Se duas coisas me incomodam imensamente, elas são a rotina e a alienação. Minha cidade é ótima, mas ela sempre foi muito pequena para os meus anseios. Finalmente, a oportunidade apareceu e eu não a deixaria escapar, mesmo com todos os poréns que eu enfrentei para estar aqui. Minha família me apoiou e, no fim, é só disso que você realmente precisa.

Hoje, trabalho na MAKNA, sigla que significa Majlis Kanser Nasional - ou National Cancer Council. Somos uma organização não-governamental, uma das maiores do país. Pesquisa da Colgate-Palmolive e algumas campanhas feitas por outras empresas reconheceram a aprovação do público, colocando-nos como a ONG mais bem quista dentre as apresentadas.

O nome 'MAKNA', em Bahasa, também pode ser traduzido por 'significado, sentido', e é isso que faz o nosso trabalho ser especial. Além de suporte financeiro e do tratamento para pacientes com câncer, também fornecemos apoio psicológico e emocional. A organização trabalha com prevenção, tratamento e pesquisa, com nosso próprio centro hospitalar. Atendemos a todos, sem distinção de cor, gênero, status legal ou religião. Nossos programas também abrangem as famílias daqueles tocados pelo câncer, com um sistema de bolsas escolares e empréstimos (sem cobrança de juros) para abertura de pequenos negócios. Os recursos para tudo isso vêm de doações: cartão de crédito, doações diretas, desconto em folha de pagamento, campanhas institucionais. São quase 2 milhões de ringgit (próximo de 1 milhão de reais) por mês.

Sou executiva da Divisão Internacional, montada em 2008 para levar esse cuidado para outros países do Sudeste Asiático e do Oriente Médio. Somos quatro pessoas somente, mas o mundo que nos aguarde. ;)

Todos os colaboradores, contratados ou voluntários, não ficam somente em suas funções 'de escritório'. Duas vezes por ano, temos de dormir na casa de um de nossos pacientes e ajudar sua família com o tratamento. Participamos de home visits em outras cidades e também de exibições em feiras, universidades, shoppings de todo o país. Assim, temos uma visão de todo o sistema, e daí podemos ter idéia de como melhorar nosso trabalho - e dos entraves que ainda temos de superar.

Terça-feira foi a minha primeira exposição. Foi na Universiti Teknologi Mara, em Shah Alam, capital de Selangor. Kuala Lumpur, o distrito federal, fica 'dentro' desse estado. Foi uma ótima chance que tive de conhecer a população considerada cabeça aberta da Malásia: os universitários. É difícil falar sobre câncer de mama e de testículos em uma sociedade que não toca nesses assuntos, mesmo no meio acadêmico. Como pedir pra uma mulher ou um homem fazerem o auto-exame, se eles não conhecem bem o próprio corpo?

Muitos passavam pelo estande e olhavam ressabiados. De longe, primeiro observam. Comentam, cutucando o amigo do lado. Riem. Depois, a curiosidade os vence e se aproximam. Assim, conseguimos conquistar confiança e conversar.

A intenção era realmente chocar com as fotos. Assim que paravam, podíamos abordá-los.

 
Caras de espanto. 95% dos que se interessavam eram meninas. Os rapazes ainda têm mais preconceito ainda, e não se envolvem. Vi só uns 5 ou 6. 

 Aprendendo a se tocar

Nesse dia, conseguimos vinte novos voluntários, nossa caixinha de doações estava quase cheia e distribuímos todos os folhetos explicativos sobre o auto-exame das mamas! Tivemos interessados até a última hora, praticamente fechamos a universidade!! Foi ótimo!! As pessoas são receptivas, o trabalho é gratificante, você vê a mudança e os rostos iluminados bem à sua frente. Sempre tive essa certeza, e agora ela só se fez mais forte: o problema do mundo é a falta de alteridade.

É isso. A Malásia me recebeu muito bem e eu espero estar retribuindo em iguais condições! Aqui, a zona de desconforto é uma constante.

Veja fotos da viagem e um vídeo aqui.
Visite o site da MAKNA!


:: Em KL, 01h47, já de quinta.
:: Ouvindo: 3 Doors Down.

Cameron Highlands

No sábado de Hari Raya, embarquei para Cameron Highlands. Fui com colegas de trabalho, todos estrangeiros como eu. Saindo de Pudu Raya, a rodoviária de Kuala Lumpur, existem várias linhas de ônibus que fazem a viagem: nós fomos pela Kurnia Bistari. Levando-se em consideração que esse feriado é o mais importante pros muçulmanos e que todos os hotéis, ônibus, aviões e albergues para todos os lugares estavam lotados, foi um achado essa viagem. Conseguimos os últimos cinco lugares no ônibus vip, que não era lá tão mal assim. Eram somente três cadeiras em cada fileira, e não 4, como no Brasil. Além disso, existem somente 27 assentos no total e, assim, eles são totalmente reclináveis, com apoio para pernas e pés.

Cameron Highlands é o refúgio dos chineses e cingapurianos - e de mochileiros europeus também, sempre com um exemplar surrado do Lonely Planet nas mãos. Ao subirem a serra, buscam fugir do calor e da agitação urbana. O nome do lugar é em homenagem a William Cameron, o explorador britânico que descobriu o platô em 1885. Desde então, agricultores europeus lá se estabelecem para plantar chá e morangos, já que o solo da área também ajuda em tal atividade. A 1500m de altitude e com apenas 712km², o distrito é formado por 8 cidadezinhas. Ficamos em Tanah Rata, a que possui mais serviços turísticos - e a única com área de desembarque. O isolamento também favorece a existência de um templo budista, de um convento e de alguns templos indianos; todos ficam no alto das montanhas.

Apesar de estar a apenas 214km da capital, a viagem dura aproximadamente 5 horas, por conta da serra. No nosso caso, durou mais. O mundo inteiro estava deixando KL e indo ao campo, como na música de Balik Kampung! Saímos às 8h30 e chegamos às 14h. Teve chuva e engarrafamento na estrada. E uma fila de 20 minutos para usar o banheiro na parada intermediária (eu ainda acho que peguei a que andava mais rápido... meus colegas ficaram meia hora na espera!).

Chove, chuva... 


Bem que no Brasil todas as estradas poderiam ser assim... 

Na estrada tortuosa que te leva ao frio, muitas barraquinhas de durian, a fruta típica da Malásia. Ela lembra uma jaca, mas menor - no tamanho, não na potência atômica. Meu nariz consegue detectar seu cheiro de animal em decomposição a quilômetros de distância. E como o cheiro da jaca (que aqui também tem e chama-se jackfruit), gruda em tudo. Hotéis e o transporte público proíbem a entrada, permanência e degustação dessa coisa. Ao lado das barraquinhas, havia as moradias dos malasianos. Infelizmente, pobreza é igual em qualquer lugar do mundo e as casinhas de madeira e palha são tudo que eles têm.

Segurem-se todos! 


Casinha à beira da estrada

O kampung
 
A paisagem é um espetáculo à parte. Há cachoeiras escondidas pela vegetação nativa e desde a serra já se pode ver as plantações de chá. Só não se focalize na janela por muito tempo; a espiral da subida faz você achar que está passando pelo mesmo lugar pela milésima vez, além de causar reações fisiológicas adversas. É bom tomar um Dramin antes de ir para Cameron Highlands.

Começando a subir a serra

Desníveis indicando as plantações de chá, em cor mais clara 
 
Enfim, chegamos. Minha primeira impressão foi a de ter viajado no tempo e caído no meio de um vilarejo inglês, na época da Dinastia Tudor. Não fossem os carros japoneses, eu poderia, sim, dizer que estive no interior da Europa. Lá também chovia, mas nada que atrapalhou nossas caminhadas. 

Conseguimos alugar um apartamento de uma voluntária da organização em que trabalho. Ela nos recepcionou com os sorrisos e a hospitalidade típica dos malaios e nos levou até o local. Não era um prédio para turistas, e sim um condomínio residencial que os próprios nativos compram como investimento. São suas 'casinhas de campo'. O nosso era um apartamento halal, ou seja: nada de porco e nada de bebidas alcoólicas. Mas era todo arrumadinho e todo acarpetado.

A rua principal (e que fique claro, só existem mais algumas 5 ou 6) concentra o que você mais encontra em Cameron Highlands: comida!!! Tem pra todos os gostos: chinesa, malaia, filipina, indiana, italiana... tem até Starbucks, para os viciados naquele café sem graça. Mas é um ótimo lugar pra relaxar, usar o Wi-fi cortesia e comer uma écclair. Após o almoço tardio, demos uma volta pela avenida e conhecemos o parque da cidade. Ah, a Lotta, nossa amiga viking, resolveu experimentar o tal do durian. Desejamos boa sorte e saímos correndo.

Eu, Lotta e Pinshu (Foto: Rajibul Hasan)

Durian... que gostoso! (Foto: Rajibul Hasan)

Sábado é dia de night market nas montanhas; logo, não poderíamos deixar de visitá-lo. Mas acontece que deixamos (losers!). A feira é realizada em outra cidade do vale, Brinchang. De qualquer forma, a caminhada noturna também foi legal - em tempos de Hari Raya, tudo se enfeita e a iluminação festiva é muito bonita. Jantamos em um restaurante indiano; pra acalmar o frio, bebi um cappuccino (bem italiano, mas - surpresa! - vendido no mesmo lugar). A madrugada chuvosa e o frio da manhã seguinte só nós confirmaram uma coisa: a trilha do dia seria, no mínimo, interessante.

Contratamos os serviços de um senhorzinho simpático, em seu guichê de informações ao lado do restaurante. Ele nos pegou em casa e passou a programação do dia: visita às plantações de chá, trilha em Bukit Binchang e na Mossy Forest, Butterfly Farm e Strawberry Farm, tudo isso pela manhã. Como imagens valem mais do que palavras nessas horas, serei bem rápida:

BOH Tea Plantations (uma família escocesa detém a maior plantação de chá preto do país)

O ponto mais alto da Malásia: 3000m 

Lotta e eu na Mossy Forest (Foto: Rajibul Hasan)
 


Vila de trabalhadores da BOH Tea Plantations; as plantações estendem-se ao horizonte.


Rajibul e o camaleão (parte da Butterfly Farm)
  
Butterfly Farm

 Clique aqui para ver o resto (compensa, eu garanto! :)

Às duas da tarde, estávamos de volta. De tão exaustos, não fizemos mais nada no resto do dia. Meu colega Rajibul, o fotógrafo, voltou à floresta para conhecer os aborígenes da região (sim, ele é muuuito animado), mas os normais foram descansar. No outro dia cedo, regressamos à Kuala Lumpur. Teve mais chuva, e voltamos em um SUV - a empresa não tinha mais vaga nos ônibus de retorno e nos deram essa opção. Pagamos um pouco mais caro que a viagem de ida, mas nada exorbitante.

Em uma visão bem rápida, Cameron Highlands nem tem tanta coisa a se fazer assim, tirando as benesses do frio. Não é uma viagem cara, e certamente é algo para se fazer depois de uma semana estressante. Também deve ser muito bom pra um fim de semana diferente com o namorado ou namorada, pois vi vários casais curtindo o romantismo da cidade. Se você animou, faz favor de escolher alguém bem especial, senão o 'evento' vai acabar sendo um martírio. A área urbana mais próxima está a 5h de distância.

Eu pretendo voltar, acompanhada e para comer morangos! ;)

:: Em KL, 23h04.
:: Ouvindo: Franz Ferdinand.


:: P.S.: Desculpaê pela péssima formatação. Eu juro que tentei, várias vezes, arrumar esses espaçamentos. Mas o editor não coopera comigo!

Buka Puasa

Cheguei na Malásia na véspera do início do Ramadã, a data mais especial para os muçulmanos. No 9º mês do calendário islâmico (que segue as fases da lua), acontece a prática do jejum, com orações mais intensas e caridade. Acredita-se que ao fim desse período, a fé está renovada, por meio do crescimento espiritual. Geralmente, o primeiro jejum de um muçulmano acontece quando ele atinge a puberdade, e a estréia é tratada como um rito de passagem - o mocinho ou a mocinha já estão prontos para a vida adulta. Porém, meus amigos muçulmanos me contaram que muitos não esperam esse tempo, e começam a jejuar entre 6 e 8 anos: "a partir do momento que você entende o porquê da provação, você já está preparado". Todos são obrigados a praticar, exceto as grávidas, os idosos e os doentes; mesmo assim, os mais religiosos ignoram essas condições e praticam o fasting (termo em inglês para jejum).

O jejum é feito durante todo o mês, da alvorada ao pôr-do-sol (aqui na Malásia, isso quer dizer das 5h15 da manhã às 19h15) e não trata somente de comida. Qualquer prazer da vida deve ser suspenso durante essas horas, e isso inclui cigarros e sexo. A abstinência é também em pensamento e em atos, pois isso faz parte da prática disciplinar e da doutrina moral dos muçulmanos. A maioria também se priva de beber água e alguns mais radicais nem engolem a própria saliva. Com o início do crepúsculo, acontece o Iftar, palavra em árabe que significa a quebra do jejum. Em Bahasa Melayu, diz-se Buka Puasa - na tradução literal, 'casa aberta', e vocês já vão entender o porquê.

Em uma comparação grosseira, o Natal é para os cristãos o que o Ramadã significa para os muçulmanos - é mais importante, inclusive, do que o dia do nascimento do profeta. As orações são mais intensas e o fim do jejum diário é celebrado com música e fogos de artifício. As casas, escritórios e os shoppings enfeitam-se com luzinhas, tecidos e bonecos; há apresentações culturais, comerciais de boas festas, festivais de comida típica e, obviamente, promoções. As lojas liquidam tudo, e os restaurantes oferecem buffets 'all-you-can-eat' a partir das 19h. Há também barraquinhas de comida malaia estrategicamente montadas em toda a cidade, caso não dê para você chegar em casa a tempo de cozinhar antes da reza.

O escritório perto do Hari Raya (foto do meu celular).
 
Cartões com orações e votos de prosperidade (foto do meu celular).

Eu e Habiba (foto do meu celular).

Mas, se você não quiser gastar horrores, pode ir a um Buka Puasa. Ao anoitecer, os muçulmanos preparam grandes banquetes para celebrar o dia e as bençãos que receberam. As pessoas saem às ruas para visitar amigos, parentes ou até mesmo entrar na casa de desconhecidos e celebrar a união. As portas estão todas abertas, e qualquer um que entrar será bem-vindo, até mesmo estrangeiros (daí que vem o termo 'casa aberta'). Você come à vontade, e ainda recebe abraços e sorrisos de gratidão.

Cada empresa organiza seu Buka Puasa oficial e o do escritório em que trabalho foi na última terça-feira antes do Hari Raya, dia 15. Pude perceber como esse mês é importante para eles: os muçulmanos foram autorizados a sair mais cedo e voltaram com suas famílias e suas melhores roupas. Muitos homens utilizavam o traje típico malaio, o baju malayo. É como se fosse o dia da ceia de Natal, à exceção de que nós só temos uma por ano, e eles têm 30 seguidas.

  Confraternizando durante o Buka Puasa
Seguindo o Alcorão, o jejum é quebrado com algo doce - depois de tanto tempo sem receber energia, o corpo precisa de açúcar para acelerar o metabolismo. Assim, às 19h15, os doces foram liberados. O mais tradicional deles, tâmaras - mas também havia pudim de frutas, creamy puffs, curry puffs (algo como donuts recheados de creme de baunilha e galinha com curry), chocolates e doces tipicamente malaios: feitos de amido de arroz, com recheio de coco queimado, servidos em folha de bananeira.

 
A famigerada mesa dos doces!

Às 19h30, os homens retiraram-se para fazer a oração (os espaços públicos e empresas daqui têm espaços reservados às rezas diárias, que são cinco). Em sinal de respeito, nenhuma outra pessoa praticante de outra religião os acompanhou; por isso, não tenho fotos. Mas a entoação é muito bonita. Depois de 15 minutos, eles estavam de volta. Todos se cumprimentam e fazem votos de fé, enquanto servem o jantar. Daí em diante, é só alegria. As pessoas reunem-se em rodas para conversar, enquanto agradecem pelo dia. Nesse dia, o menu teve arroz branco, arroz com ervas, melancia, salada de pepino com gergelim e abacaxi, carneiro ao molho e frango agridoce. Tudo bem apimentado, ao gosto do Sudeste Asiático. Ah, tb teve nan (um pão característico dos indianos) com molho de frango - e sem pimenta. Foi o que me salvou - afinal, não comer em um Buka Puasa é quase uma ofensa (de qualquer jeito, me perguntaram se eu como pouco sempre ou se eu estava com vergonha de avançar sobre as travessas rs). Para beber, suco de rosas. Sim, de rosas!! É uma bebida malaia típica, e o pessoal prefere isso às frutas 'tradicionais': laranja, manga, goiaba... Tanto que, em qualquer supermercado, você encontra galões de 5 litros para vender. Sinceramente? Tem gosto de amaciante... argh! Mas eles bebem de gole.

Na Malásia, como os malaios.
  Todo mundo feliz e saltitante!
 Mais fotos aqui.

Ao fim do mês do Ramadã, ocorre o Eld al Fitr, o 'banquete do término do jejum', marcado pela entrada na lua nova. Há um feriado de três dias consecutivos, com comida, orações, troca de presentes e agradecimentos a Deus. Amigos e familiares congregam-se. Em Bahasa, a expressão usada é Hari Raya ('Dia da celebração'), e Selamat Hari Raya Aldilfitri significa 'Bom festival do dia da celebração'. As músicas dessa época cantam essa frase e também Balik Kampung, que quer dizer 'volta ao campo', já que muitos deixam a cidade grande para reunirem-se com a família na área rural. Ouvi até música de Hari Raya com a mesma melodia de Jingle Bells!!!

A minha celebração começou na sexta (18) ,às 13h, e terminou na terça-feira (22). Para os muçulmanos, começa no anoitecer da quinta (17) e vai até a outra quarta (23). Aproveitando a folga, fui passar frio e tomar chá em Cameron Highlands.

:: Em KL, 23h19.
:: Ouvindo: O Rappa, acústico.
 

O carro colorido da Lotus

A imprensa internacional anunciou recentemente a volta da Lotus à Fórmula 1. Para os brasileiros, isso certamente traz boas lembranças. Mas eu não estou aqui para falar disso, e sim do carro colorido da escuderia. Essa coisa linda aí embaixo.


No Brasil, pelo que pude notar, a comemoração é relevante, mas o porquê de tanta cor e tantos logotipos inéditos foi deixado de lado. A Lotus voltou à Fórmula 1 em parceria com o governo malasiano, a Proton e a Naza, os grandes conglomerados automotivos daqui - as cores fazem menção à bandeira do país. O anúncio foi feito pelo próprio Primeiro-Ministro, mas sem citar números relativos ao investimento.

Me impressiona o fato de eu só ter lido essa versão da matéria em jornais locais. O The Star, distribuído gratuitamente na estação central de Kuala Lumpur, traz uma reportagem completa. O time chamar-se-á 1Malaysia (em Bahasa: Satu Malaysia), o slogan do governo para este ano. Sua equipe será composta de aproximadamente 200 pessoas e os comentários de rua já sugerem que os corredores malaios da Fórmula A1 serão os escolhidos para pilotar o carro. A posição oficial, porém, sai dia 31 de outubro.

A equipe será a primeira a estabelecer-se fora da Europa, no Circuito Internacional de Sepang, e toda a tecnologia e design são nacionais. O nome da Lotus foi escolhido pela sua credibilidade internacional - ah, e também é bom dizer que ela detém uma parte do capital da Proton.

Agora, vamos a alguns nomes de peso: o time será gerenciado pelo ex-diretor técnico da Renault, Mike Gascoyne. O presidente será Tony Fernandes, dono da AirAsia (a maior empresa de viagens low-cost do mundo), tendo ainda como acionistas o CEO do Naza Group e o próprio governo da Malásia. Espera-se que isso contribua com o avanço e desenvolvimento do país na arena internacional.

Hoje, a F1 foi pauta de várias conversas no escritório. Uns a favor do incentivo federal, outros nem tanto. Mas todos concordaram em uma coisa: esse carro ficou MUITO estranho. Mesmo. Como a própria Lotus disse que o possante fica pronto em fevereiro (a linha de produção começa na Europa e termina na Ásia), esperamos que eles escolham outra pintura. Algo menos carnavalesco, talvez. ; )

:: Em KL, 01:32h, já de quinta.
:: Ouvindo: A-Ha, Summer Moved On.

"Um lindo país que fica entre a Tailândia e Cingapura"

"A Malásia é um lindo país que fica entre a Tailândia e Cingapura". Começo com a frase de umas das pessoas mais interessantes que já conheci por aqui. Adeline é mais brasileira do que chinesa, a começar pelo nome. Namora há cinco anos um cara também gente boa que apareceu aqui por acaso. Xinga em português, adora nossas expressões ("elas fazem sentido, como é que não pensei nisso antes??") e foi Miss Malásia 2006. Veja o videozinho promocional dela no Miss Mundo do mesmo ano aqui.

Apesar de toda essa pompa, Adeline é tão simples e humilde que certamente passaria despercebida em qualquer outro lugar. Mas a hospitalidade e o carinho com que me trata é característico do povo malasiano. Parece que existe uma aura coletiva de retribuição aos estrangeiros que aqui estão. Os locais são muito prestativos aos mat salleh, como eles chamam-nos em Bahasa Melayu, a língua nativa. Significa 'homem branco' e vem de 'mad sailor', da época da colonização inglesa. Com essa adaptação, dá pra imaginar o que os europeus fizeram por aqui em séculos passados... ainda bem que os motivos pelos quais o país é um atrativo mudaram. Ao notar um estrangeiro, é como se soubessem que aqui estamos porque fazemos parte de algo grande. Eles encaram e observam, mas talvez com um ar de curiosidade e não para constranger. Alguns até param para dizer "Oi, bem-vindo à Malásia!" : )

Dividida pelo Mar do Sul da China, a Málásia é composta por uma parte peninsular, algumas ilhas e um pedaço da Ilha de Bornéu. Em 329.847km², espremem-se quase 28 milhões de pessoas. E eu vivo na cidade mais populosa, Kuala Lumpur. Praias de areia branca e água azul, plantações de chá e morangos a 1500m de altura, além da beleza dos arranha-céus, trazem a esse cantinho do planeta o título de país mais desenvolvido do Sudeste Asiático: o moderno e o tradicional convivem e trabalham lado a lado. Porem, como todo país em desenvolvimento, a área urbana cosmopolita mascara o interior pobre e arcaico. São dois mundos dentro de um terceiro, ainda com muito a explorar.

O sistema político é algo único: a Malásia possui 13 estados, sendo nove governados por sultões. Estes se revezam no poder a cada cinco anos - fazendo do país uma monarquia constitucional. Os outros quatro estados possuem governadores titulares, que não entram na conta. Segundo o site do Governo, aqui também é uma democracia parlamentar, onde o Primeiro Ministro é escolhido pelo único partido existente (entenderam, né? Falo mais nada... o Irã também é "democrático").

A geografia do local favoreceu as ondas colonizadoras britânicas, pois a península era vista como um hub entre as duas metades do mundo, além de ter favorecido a exploração da Oceania. Houve também colônias portuguesas no litoral oeste, em Melaca. Até hoje, os estrangeiros constituem quase 10% da população total. A maior parte dos residentes é malaia (54%), seguidos pelos malasianos de origem chinesa (25%) e pelos de origem indiana (11%). A religião oficial é o islamismo, mas a Constituição permite outras formas de expressão religiosa.

Atenção para a licença poética. O adjetivo pátrio da Malásia, em português, é malaio. Aqui, é Malaysian (malasiano). E essa diferença é importantíssima para se entender a sociedade. Aqui, malaio é aquele nasce muçulmano, por definição constitucional. Ou seja: se você não nasceu em uma família de chineses ou de indianos, você não tem escolha. Malay são os muçulmanos; Malaysian, todo o resto. É por isso que uso a tradução livre aqui no blog. Aos viajantes de plantão: favor não se esquecerem desse detalhe, pois aqui isso pode dar problema. Não chame um chinês ou indiano de Malay, jamais! O equilíbrio e a tolerância entre as raças ainda é muito frágil, já que a Malásia só tem 52 anos de independência. Esses dois últimos povos, ao serem indagados, preferem afirmar-se na origem de seus povos do que na terra em que vivem. A identidade nacional ainda está em construção.

Ah, sim. É claro que nem tudo são flores, a Malásia também tem defeitos. Mas isso é conversa pra outra hora. Assim como a vida exótica e pulsante de Kuala Lumpur merece vários posts. Enquanto isso, fiquem com algumas fotos das Petronas Towers, o cartão postal mais lembrado (e visitado) da capital.

:: Em KL, 21h42.
:: Ouvindo: a reza da Mesquita, dois quarteirões abaixo.

001


Cá estou eu de novo. Sabe, eu já pertenci a esse mundo dos blogs várias vezes. E ainda nem tinham concebido esse nome bonito, mas que só serve para segregar os que se acham bons dos que têm certeza que são bons (e por isso, criaram a blogosfera). Ainda não existia Flickr, Twitter, Orkut, nem scripts. Era um mundo tão pacífico, cheio de linguagem HTML e hexadecimais feitos à base de muita paciência no bloco de notas. A internet me acompanha desde muito cedo e isso certamente influenciou minha cultura, minhas amizades e pensamentos. Já tentei me desligar, mas, felizmente, não consegui. A rede também me trouxe novidades, descobertas, ofertas de estudo e de trabalho. E é por isso que voltei.

Não que minha mão já não se agüentava de tanta agonia. Era chato só produzir artigos científicos, relatórios técnicos e menções (vida de servidor público!). Ex-chefe, se você estiver lendo isto, saiba que eu gostava do meu trabalho. Só me consumia umas 14 horas do dia, mas tudo bem. Minha cabecinha não prestava pra mais nada depois disso.

As obrigações me fizeram desistir de dois blogs anteriores. Meus cadernos, blocos e rabiscos do dia-a-dia acabaram esquecidos no meio do estresse. Ah, mas como fazia falta... Daí, já que agora eu arrisquei tudo para estar aqui, decidi retomar velhos hábitos para ajudar na adaptação. Mas não vou fazer dieta, passar fome, puxar peso ou suar horrores no squash. Uma caminhada básica, fazer ioga, nadar e escrever, isso sim. Porque preciso.

Este blog é o meu mundo particular, meu espaço pra lidar com minhas vozes internas e os desafios que me aguardam. A Malásia, definitivamente, foi o meu pulo do gato no meu ano do Boi. Sou uma pessoa abençoada e muito agradecida por tudo que tem acontecido nos últimos meses. É como se eu soubesse que isso já me esperava, mas eu precisava amadurecer para receber o presente. Aconteceu no momento certo.

As postagens e os comentários seguem o horário oficial de Brasília. Algumas vezes, pode acontecer de os textos não terem sentido algum; será só eu fazendo algum tipo de faxina. Considere esta incursão, portanto, uma dupla jornada: a Ásia pelas lentes dos meus óculos e eu mesma pelas suas lentes. Se você não ficar satisfeito com o que encontrar por aqui, eu não dou a mínima. Eu não preciso de 45 mil seguidores, só preciso expor o que eu penso.

:: Em KL, 01h08, já de terça.
:: Ouvindo: Alejandro Sanz.