Cameron Highlands

No sábado de Hari Raya, embarquei para Cameron Highlands. Fui com colegas de trabalho, todos estrangeiros como eu. Saindo de Pudu Raya, a rodoviária de Kuala Lumpur, existem várias linhas de ônibus que fazem a viagem: nós fomos pela Kurnia Bistari. Levando-se em consideração que esse feriado é o mais importante pros muçulmanos e que todos os hotéis, ônibus, aviões e albergues para todos os lugares estavam lotados, foi um achado essa viagem. Conseguimos os últimos cinco lugares no ônibus vip, que não era lá tão mal assim. Eram somente três cadeiras em cada fileira, e não 4, como no Brasil. Além disso, existem somente 27 assentos no total e, assim, eles são totalmente reclináveis, com apoio para pernas e pés.

Cameron Highlands é o refúgio dos chineses e cingapurianos - e de mochileiros europeus também, sempre com um exemplar surrado do Lonely Planet nas mãos. Ao subirem a serra, buscam fugir do calor e da agitação urbana. O nome do lugar é em homenagem a William Cameron, o explorador britânico que descobriu o platô em 1885. Desde então, agricultores europeus lá se estabelecem para plantar chá e morangos, já que o solo da área também ajuda em tal atividade. A 1500m de altitude e com apenas 712km², o distrito é formado por 8 cidadezinhas. Ficamos em Tanah Rata, a que possui mais serviços turísticos - e a única com área de desembarque. O isolamento também favorece a existência de um templo budista, de um convento e de alguns templos indianos; todos ficam no alto das montanhas.

Apesar de estar a apenas 214km da capital, a viagem dura aproximadamente 5 horas, por conta da serra. No nosso caso, durou mais. O mundo inteiro estava deixando KL e indo ao campo, como na música de Balik Kampung! Saímos às 8h30 e chegamos às 14h. Teve chuva e engarrafamento na estrada. E uma fila de 20 minutos para usar o banheiro na parada intermediária (eu ainda acho que peguei a que andava mais rápido... meus colegas ficaram meia hora na espera!).

Chove, chuva... 


Bem que no Brasil todas as estradas poderiam ser assim... 

Na estrada tortuosa que te leva ao frio, muitas barraquinhas de durian, a fruta típica da Malásia. Ela lembra uma jaca, mas menor - no tamanho, não na potência atômica. Meu nariz consegue detectar seu cheiro de animal em decomposição a quilômetros de distância. E como o cheiro da jaca (que aqui também tem e chama-se jackfruit), gruda em tudo. Hotéis e o transporte público proíbem a entrada, permanência e degustação dessa coisa. Ao lado das barraquinhas, havia as moradias dos malasianos. Infelizmente, pobreza é igual em qualquer lugar do mundo e as casinhas de madeira e palha são tudo que eles têm.

Segurem-se todos! 


Casinha à beira da estrada

O kampung
 
A paisagem é um espetáculo à parte. Há cachoeiras escondidas pela vegetação nativa e desde a serra já se pode ver as plantações de chá. Só não se focalize na janela por muito tempo; a espiral da subida faz você achar que está passando pelo mesmo lugar pela milésima vez, além de causar reações fisiológicas adversas. É bom tomar um Dramin antes de ir para Cameron Highlands.

Começando a subir a serra

Desníveis indicando as plantações de chá, em cor mais clara 
 
Enfim, chegamos. Minha primeira impressão foi a de ter viajado no tempo e caído no meio de um vilarejo inglês, na época da Dinastia Tudor. Não fossem os carros japoneses, eu poderia, sim, dizer que estive no interior da Europa. Lá também chovia, mas nada que atrapalhou nossas caminhadas. 

Conseguimos alugar um apartamento de uma voluntária da organização em que trabalho. Ela nos recepcionou com os sorrisos e a hospitalidade típica dos malaios e nos levou até o local. Não era um prédio para turistas, e sim um condomínio residencial que os próprios nativos compram como investimento. São suas 'casinhas de campo'. O nosso era um apartamento halal, ou seja: nada de porco e nada de bebidas alcoólicas. Mas era todo arrumadinho e todo acarpetado.

A rua principal (e que fique claro, só existem mais algumas 5 ou 6) concentra o que você mais encontra em Cameron Highlands: comida!!! Tem pra todos os gostos: chinesa, malaia, filipina, indiana, italiana... tem até Starbucks, para os viciados naquele café sem graça. Mas é um ótimo lugar pra relaxar, usar o Wi-fi cortesia e comer uma écclair. Após o almoço tardio, demos uma volta pela avenida e conhecemos o parque da cidade. Ah, a Lotta, nossa amiga viking, resolveu experimentar o tal do durian. Desejamos boa sorte e saímos correndo.

Eu, Lotta e Pinshu (Foto: Rajibul Hasan)

Durian... que gostoso! (Foto: Rajibul Hasan)

Sábado é dia de night market nas montanhas; logo, não poderíamos deixar de visitá-lo. Mas acontece que deixamos (losers!). A feira é realizada em outra cidade do vale, Brinchang. De qualquer forma, a caminhada noturna também foi legal - em tempos de Hari Raya, tudo se enfeita e a iluminação festiva é muito bonita. Jantamos em um restaurante indiano; pra acalmar o frio, bebi um cappuccino (bem italiano, mas - surpresa! - vendido no mesmo lugar). A madrugada chuvosa e o frio da manhã seguinte só nós confirmaram uma coisa: a trilha do dia seria, no mínimo, interessante.

Contratamos os serviços de um senhorzinho simpático, em seu guichê de informações ao lado do restaurante. Ele nos pegou em casa e passou a programação do dia: visita às plantações de chá, trilha em Bukit Binchang e na Mossy Forest, Butterfly Farm e Strawberry Farm, tudo isso pela manhã. Como imagens valem mais do que palavras nessas horas, serei bem rápida:

BOH Tea Plantations (uma família escocesa detém a maior plantação de chá preto do país)

O ponto mais alto da Malásia: 3000m 

Lotta e eu na Mossy Forest (Foto: Rajibul Hasan)
 


Vila de trabalhadores da BOH Tea Plantations; as plantações estendem-se ao horizonte.


Rajibul e o camaleão (parte da Butterfly Farm)
  
Butterfly Farm

 Clique aqui para ver o resto (compensa, eu garanto! :)

Às duas da tarde, estávamos de volta. De tão exaustos, não fizemos mais nada no resto do dia. Meu colega Rajibul, o fotógrafo, voltou à floresta para conhecer os aborígenes da região (sim, ele é muuuito animado), mas os normais foram descansar. No outro dia cedo, regressamos à Kuala Lumpur. Teve mais chuva, e voltamos em um SUV - a empresa não tinha mais vaga nos ônibus de retorno e nos deram essa opção. Pagamos um pouco mais caro que a viagem de ida, mas nada exorbitante.

Em uma visão bem rápida, Cameron Highlands nem tem tanta coisa a se fazer assim, tirando as benesses do frio. Não é uma viagem cara, e certamente é algo para se fazer depois de uma semana estressante. Também deve ser muito bom pra um fim de semana diferente com o namorado ou namorada, pois vi vários casais curtindo o romantismo da cidade. Se você animou, faz favor de escolher alguém bem especial, senão o 'evento' vai acabar sendo um martírio. A área urbana mais próxima está a 5h de distância.

Eu pretendo voltar, acompanhada e para comer morangos! ;)

:: Em KL, 23h04.
:: Ouvindo: Franz Ferdinand.


:: P.S.: Desculpaê pela péssima formatação. Eu juro que tentei, várias vezes, arrumar esses espaçamentos. Mas o editor não coopera comigo!