Hari Raya e Merdeka

Neste ano, o fim do Ramadã coincidiu com o aniversário de Independência da Malásia. Nem me empolgo muito, pois já é o terceiro desde que cheguei. Mas para os malaios, tudo é festa. O feriado todo teve três dias: o ano novo deles leva dois dias e por aqui, quando um feriado cai no domingo ou é sobreposto por outro, o dia seguinte também é de folga, por compensação! E não é só na empresa em que trabalho, é no país todo, por lei! Depois são os brasileiros que têm muitos feriados... aham.

Mas a razão de ser deste texto é a competição que o RH lançou entre os departamentos lá na empresa, para ver quem fazia a melhor decoração temática com base nesses festivais. Sem orçamento, tiveram de apelar para a criatividade e esta foi, para mim, a mais bem feita de todas. Fugindo do lugar-comum, a equipe de relatórios gerenciais criou um retrato do interior da Malásia, o famoso balik kampung (volta ao campo). Quando o ano novo chega, toda a família se reúne em volta da casinha de palha do patriarca para comer arroz feito no bambu e frango frito na wok - os costumes, os hábitos e o estilo de vida rural permanecem os mesmos desde tempos remotos, inclusive para famílias que vivem nas capitais. Os detalhes e o cuidado com que fizeram essa representação mostram todo o significado que a data têm para eles. Achei um trabalho fantástico e que merece o "óun" do mês:

O Kampung
 
Atenção às lamparinas na porta da casa: exatamente como na vida real
 

Siri maroto
 
Lembrando a Data Nacional
 
Já vi essa cena diversas vezes, até aqui em Kuala Lumpur

 
O galinheiro super fofo!
 
Sai daí, vovô! O coco vai te acertar!

 
O arroz no bambu e a wok para fritar o frango

Eles também adoram peixe e lula secos e o processo é o mesmo que fazemos com a carne de sol - repare no varalzinho

Detalhe dos passarinhos no telhado da casa.


Não é legal? =)


: : Em KL, 02h09, já de quinta.

Angkor: o paraíso na Terra

Enfim, a viagem mais esperada do ano chegou! **milhões de sorrisos** A volta ao Camboja seria no ano passado, mas por conta do emprego novo, tive de adiá-la. Tanto planejamento só poderia resultar em dias intensos, mas relaxantes.

Siem Riep fica ao norte de Phnom Pehn e é porta de entrada para as ruínas de Angkor, a maior e mais desenvolvida civilização antiga do Sudeste Asiático. O nome da cidade significa "Sião derrotado" e explica muito sobre a história de guerras e invasões que o país sofreu pela vizinha Tailândia. Desde o século 2 d.C, sucessivas dinastias de reis ora hinduístas, ora budistas (com a predominância daqueles) ergueram cidades e templos de pedra, encaixados minuciosamente e esculpidos à perfeição. O representante mais conhecido dessas construções é Angkor Wat, hoje considerado o maior monumento religioso do mundo.

Como na capital, os habitantes de Siem Riep estão sempre sorrindo. Apesar de todas as dificuldades e da persistente miséria, os cambojanos levam a vida tirando o melhor do que lhes é concedido. E isso, certamente, colaborou para que essa viagem fosse a melhor dos últimos tempos.

Em quatro dias, eu e Avik, meu amigo que também esteve na viagem à Phnom Pehn, visitamos vinte ruínas, vimos o amanhecer e o pôr-do-sol, passeamos pelo rio Tonle Sap, bebemos mojito a 2 dólares o copo, nos impressionamos com o número de minas terrestres em exposição no museu e conhecemos várias pessoas que vivem de Angkor. A cada encontro, uma lição de vida e de História era compartilhada.

O povo Khmer jamais se esqueceu de seus dias de glória; os invasores franceses orgulham-se de dizer que descobriram os templos na metade do século XVIII. Comecemos pelo mais famoso deles, Angkor Wat, e a cidade que o circunda, Angkor Thom.

Angkor Wat

'Wat' significa "templo" na língua khmer e este foi erguido para adoração a Vishnu pelo Rei Suryavarman II. A construção iniciou-se na primeira metade do século 12 e sua grandiosidade é notada ao longe. É bom seguir um roteiro ao visitar as torres, pois o templo foi levantado em níveis e é fácil perder-se: os khmer acreditam em simetria e cada um dos pavimentos possui 4 áreas exatamente iguais, simbolizando os pontos cardinais. 

Amanhecer em Angkor Wat, entre a torre de entrada e o prédio principal. 

O prédio principal, entrada leste: todo esse sol e eram apenas seis da manhã.

Feito para durar.

No primeiro nível, vários prédios auxiliares. 

Um dos corredores do segundo nível. As cabeças das estátuas foram serradas durante o Khmer Vermelho e vendidas ao exterior, visando angariar dinheiro ao regime. 

Entalhes

Batalhas e reis, para sempre imortalizados.

 
Um detalhe das várias decorações de TODAS as paredes deste lugar.

Uma das estradas do último nivel...

 
Mas só se pode subir por esta! 

E uma vez lá em cima, mais surpresas!

 
Sim, eles possuem influências gregas: os povos pré-angkorianos eram navegadores e faziam comércio com a Europa!

A vista lá de cima! Depois daquele muro em segundo plano é que começa Angkor Wat. : )

Angkor Thom

'Thom' significa "grande" e é assim que a maior cidade antiga da região era conhecida. Estima-se que, em seu auge, Angkor Thom tenha abrigado aproximadamente um milhão de habitantes. Para explorar Bayon e outras ruínas, tome seu tempo - e volte ao fim da tarde para as melhores fotos.

Um dos cinco portões de entrada, guardados por soldados, nagas e as faces apontando ao Norte, Sul, Leste e Oeste. 

 
Bayon Temple e suas indefectíveis faces.
 
Entalhes em Bayon

 
Entalhes em Bayon

No Camboja, todos sorriem - até as estátuas!
 
Apsaras estão por toda a parte: simbolizam fertilidade.
 
Vendo o mundo pelas janelas do último nível de Bayon.

 
Os vigias da cidade
 
Sorriso khmer
 
Parte do primeiro nível de Bayon
 
 
Baphuon: este templo continua fechado após anos - arqueólogos faziam sua restauração quando o Khmer Vermelho tomou o poder. Muitas partes do prédio, ainda desmontado, foram vendidas ou destruídas.
 
 Phimeanakas Temple: para chegar lá em cima é uma aventura: outro lance de escadas, mais íngreme, aguarda os afoitos que alcançam o primeiro portão.
 
  
É devagar que se chega lá! : )
 
 
Os terraços
 
 Latrina real (será?)

Vida!
 
 
Nagas guardam as entradas, de todos os lugares.
 
The Elephant Terrace

 
The Elephant Terrace

Detalhe das paredes do The Terrace of the Leper King
 
 Detalhe de um dos portões de Angkor Thom: essa face chama-se Avalokitesvara. No alto das torres, existe um caminho que liga todas elas - dá pra percorrer a pé, se você se animar com os 13km.

 
Do que antes era certamente um rio, restou este brejo.

Angkor Thom
 
E o dia termina do alto de Phnom Bakheng, o primeiro templo-montanha construído na cidade.

É uma pena que as fotos não traduzam todo o esplendor desse paraíso. Um dia só é corrido para todas essas paradas, mas qualquer um, a qualquer tempo, se sente imerso na grandiosidade que um dia o Império Khmer foi.

Após uma noite de sonhos lindos, seguimos a rota do Pequeno Circuito, a ser contada no próximo post.


: : Em KL, 20h55.
: : Mais fotos no Flickr

Dois

Dois anos. Nem acredito.

Esse segundo ano na Ásia passou muito rápido, cronologicamente falando. Meu novo trabalho ocupa muito tempo e muito espaço em minha mente. Apesar disso, a sensação é que esse número dois estendeu-se por todo o sempre, quando penso naquilo que deixei de lado ou que coloquei em standby para estar aqui.

Ando vivendo intensamente, vários me dizem. De novo, em doze meses, mudei de casa, emprego e salário. Construí amizades, solidifiquei as existentes, encontrei desafios e gente que queria me ver derrotada. Escolhi caminhos difíceis e pisei em lugares que poucos se atrevem. Amadureci mais um pouco; gritei muito para ser ouvida, chorei como mulheres sempre choram e também sorri com elogios bobos e verdadeiros. Viajei um pouco menos do que gostaria. Essas marcas estão todas por aí, em meu rosto, em meu corpo e nas lembranças. Mas...

Nesse ano novo da minha história, tudo pareceu um pouco sem graça. E eu até já sei o porquê.

Algo que relutei em acreditar nos últimos meses toma forma e se torna maior do que eu: é hora de seguir adiante.

Novas estradas, outras pessoas, novas oportunidades, novas interrogações e exclamações. Sorrisos e lágrimas por outros motivos. Quem sabe, até trilhas em que já passei, mas agora sob outro olhar. Mas dessa vez, sem deixar nenhuma parte de mim à margem.

Quem quiser me acompanhar, manifeste-se. Eu estou sempre pronta para caminhar por aí, a descobrir o inimaginável.

É isso que me faz sentir, sobretudo, viva.

Essa sou eu em Angkor Wat, semana passada. A pose é só pra escapar do sol, mesmo. ; )


"Como mulher, não tenho país.
Como mulher, meu país é o mundo inteiro."
-
Virginia Woolf


: : Em KL, 17h40.