"Um lindo país que fica entre a Tailândia e Cingapura"

"A Malásia é um lindo país que fica entre a Tailândia e Cingapura". Começo com a frase de umas das pessoas mais interessantes que já conheci por aqui. Adeline é mais brasileira do que chinesa, a começar pelo nome. Namora há cinco anos um cara também gente boa que apareceu aqui por acaso. Xinga em português, adora nossas expressões ("elas fazem sentido, como é que não pensei nisso antes??") e foi Miss Malásia 2006. Veja o videozinho promocional dela no Miss Mundo do mesmo ano aqui.

Apesar de toda essa pompa, Adeline é tão simples e humilde que certamente passaria despercebida em qualquer outro lugar. Mas a hospitalidade e o carinho com que me trata é característico do povo malasiano. Parece que existe uma aura coletiva de retribuição aos estrangeiros que aqui estão. Os locais são muito prestativos aos mat salleh, como eles chamam-nos em Bahasa Melayu, a língua nativa. Significa 'homem branco' e vem de 'mad sailor', da época da colonização inglesa. Com essa adaptação, dá pra imaginar o que os europeus fizeram por aqui em séculos passados... ainda bem que os motivos pelos quais o país é um atrativo mudaram. Ao notar um estrangeiro, é como se soubessem que aqui estamos porque fazemos parte de algo grande. Eles encaram e observam, mas talvez com um ar de curiosidade e não para constranger. Alguns até param para dizer "Oi, bem-vindo à Malásia!" : )

Dividida pelo Mar do Sul da China, a Málásia é composta por uma parte peninsular, algumas ilhas e um pedaço da Ilha de Bornéu. Em 329.847km², espremem-se quase 28 milhões de pessoas. E eu vivo na cidade mais populosa, Kuala Lumpur. Praias de areia branca e água azul, plantações de chá e morangos a 1500m de altura, além da beleza dos arranha-céus, trazem a esse cantinho do planeta o título de país mais desenvolvido do Sudeste Asiático: o moderno e o tradicional convivem e trabalham lado a lado. Porem, como todo país em desenvolvimento, a área urbana cosmopolita mascara o interior pobre e arcaico. São dois mundos dentro de um terceiro, ainda com muito a explorar.

O sistema político é algo único: a Malásia possui 13 estados, sendo nove governados por sultões. Estes se revezam no poder a cada cinco anos - fazendo do país uma monarquia constitucional. Os outros quatro estados possuem governadores titulares, que não entram na conta. Segundo o site do Governo, aqui também é uma democracia parlamentar, onde o Primeiro Ministro é escolhido pelo único partido existente (entenderam, né? Falo mais nada... o Irã também é "democrático").

A geografia do local favoreceu as ondas colonizadoras britânicas, pois a península era vista como um hub entre as duas metades do mundo, além de ter favorecido a exploração da Oceania. Houve também colônias portuguesas no litoral oeste, em Melaca. Até hoje, os estrangeiros constituem quase 10% da população total. A maior parte dos residentes é malaia (54%), seguidos pelos malasianos de origem chinesa (25%) e pelos de origem indiana (11%). A religião oficial é o islamismo, mas a Constituição permite outras formas de expressão religiosa.

Atenção para a licença poética. O adjetivo pátrio da Malásia, em português, é malaio. Aqui, é Malaysian (malasiano). E essa diferença é importantíssima para se entender a sociedade. Aqui, malaio é aquele nasce muçulmano, por definição constitucional. Ou seja: se você não nasceu em uma família de chineses ou de indianos, você não tem escolha. Malay são os muçulmanos; Malaysian, todo o resto. É por isso que uso a tradução livre aqui no blog. Aos viajantes de plantão: favor não se esquecerem desse detalhe, pois aqui isso pode dar problema. Não chame um chinês ou indiano de Malay, jamais! O equilíbrio e a tolerância entre as raças ainda é muito frágil, já que a Malásia só tem 52 anos de independência. Esses dois últimos povos, ao serem indagados, preferem afirmar-se na origem de seus povos do que na terra em que vivem. A identidade nacional ainda está em construção.

Ah, sim. É claro que nem tudo são flores, a Malásia também tem defeitos. Mas isso é conversa pra outra hora. Assim como a vida exótica e pulsante de Kuala Lumpur merece vários posts. Enquanto isso, fiquem com algumas fotos das Petronas Towers, o cartão postal mais lembrado (e visitado) da capital.

:: Em KL, 21h42.
:: Ouvindo: a reza da Mesquita, dois quarteirões abaixo.